sábado, 6 de junho de 2015

Opinião | O Recruta, de Robert Muchamore


Titulo Original: CHERUB - The Recruit
Ano: 2004
Editor(a):  Porto Editora
Páginas: 368

1.ª Edição - 2007


 Resumo da Contra-capa:

 Um episódio a 100 à hora, e o início de uma série fantástica de aventuras - se James sobreviver...
 Young Post

 Os agentes da CHERUB têm todos menos de dezassete anos. Vestem calças de ganga e t-shirts, e parecem crianças perfeitamente normais... mas não são.
 Eles são profissionais treinados, enviados para missões de espionagem contra terroristas e traficantes de drogas temidos internacionalmente.
 Mas, para efeitos oficiais, estas crianças NÃO EXISTEM.
 James é o mais recente recruta da CHERUB. É brilhante a matemática e a CHERUB precisa dele. 
 Esperam-no cem dias terríveis de recruta.
A aventura está a começar...


 Mini-biografia da autor (wook.pt):

 Robert Muchamore nasceu a 26 de dezembro de 1972, em Islington, Inglaterra. Trabalhou durante treze anos como detetive privado, mas abandonou a profissão para se dedicar à escrita a tempo inteiro. Costuma levar quatro a cinco meses a escrever um livro, sendo que dedica o primeiro à pesquisa e o segundo à planificação da história. Só depois escreve. Segundo o próprio, tentar escrever aquilo que gostaria de ter lido aos 13 anos de idade foi a principal razão para a criação da coleção CHERUB.


 Opinião

 Há já algum tempo que tinha a intenção de ler O Recruta, de Robert Muchamore, autor da afamada série CHERUB. Esta coleção foi uma grande aposta da Porto Editora e recebeu críticas positivas tanto de jovens como de adultos. O maior elogio é comum a muitos dos leitores: tal como Harry Potter (embora só comparável a uma escala muito mais reduzida), conseguiu inserir o gosto pela leitura em milhares de adolescentes e pré-adolescentes. As aventuras de James na CHERUB tornaram-se num sucesso tão grande que Muchamore decidiu escrever mais duas séries: Aramov, protagonizada por um novo agente, Ryan, e Henderson's Boys, sobre as origens da CHERUB. A coleção foi-me também recomendada por uma amiga próxima, pelo que o meu caminho iria inevitavelmente cruzar-se com este livro e inevitavelmente acabaria por o ler. Já tinha dado de caras com um exemplar numa papelaria há já imenso tempo e tinha ficado completamente viciada em poucas páginas, contudo, nunca retomara a leitura. Decidi finalmente partir para a descoberta de um novo mundo de ação e aventura.

 Mas afinal o que é a CHERUB?

 A CHERUB é uma agência secreta que existe somente na imaginação do autor, pelo que os acontecimentos e cenários narrados nos livros da coleção não são reais. Ligada ao MI5, serviço de segurança britânico, a CHERUB tem o seguinte propósito: treinar crianças com menos de 17 anos para se tornar espiões em missões relacionadas com terrorismo, tráfico de droga, entre outras. O propósito de usar crianças é que os adultos não suspeitam que as mesmas se encontram a espiá-los, tornando-as valiosas no recolher de informações importantes. A ideia de se tornarem espiões entusiasmou muitas crianças, que puderam, através deste livro, pôr-se na pele de James.
 James Choke é um rapaz de onze anos, perto dos doze, com uma personalidade bastante difícil: detesta a escola, está sempre a meter-se em problemas e em lutas e tem bastantes conflitos morais consigo mesmo. Em contrapartida, é brilhante a Matemática. Uma série de acontecimentos levarão a que os seus caminhos se cruzem com a CHERUB, tornando-se um dos mais recentes recrutas da agência. Para se tornar um agente, James irá passar por 100 dias difíceis de treinos que o irão levar à exaustão física e psicológica.

 A ideia por detrás do livro deixava-me bastante curiosa, pois não sabia como iria ser explorada. Ao contrário de muitos livros de premissas fascinantes que acabam por se perder ao serem mal contadas ou mal aproveitadas, o mundo de CHERUB está construído de uma maneira lógica e elimina-nos logo quaisquer receios de que haja algo de menos credível, como rapazes de 12 anos a derrotar 5 adultos numa luta ou a fazer o impossível em missões que só acontecem nos filmes de espiões. Tratando-se de crianças, há certas precauções a tomar e certos valores morais a defender e foi com grande surpresa e agrado que descobri que CHERUB respeitava todas essas regras.

 No entanto, não nos podemos esquecer que os protagonistas da história são adolescentes a viver os seus dramas pessoais, aventuras e desventuras. Ser um agente secreto aos 12 anos exige maturidade, responsabilidade, inteligência e bons reflexos. E certas atitudes mais infantis não excluem estas características, pois todos os adolescentes têm os meus momentos, contudo, muitos também são capazes de revelar maturidade nas alturas necessárias. Crianças e adolescentes deixam-se envolver emocionalmente mais facilmente em missões, tomam certas decisões mais parvas e é bom que os escolhidos tenham bem a noção da importância da sua tarefa. Sendo que este livro não é somente composto por cenas de ação e espionagem, mas também de momentos normais na vida de um adolescente, houveram certas coisas que me desagradaram bastante. Para mim, há uma grande diferença entre YA's (Young Adult's ) e juvenis, e este livro, para mim, é um juvenil e eles sempre me desagradaram, principalmente pelos diálogos que considero serem tentativas falhadas dos autores para se aproximarem dos leitores, que não são tão falhadas assim quando se tratam de jovens de 10-12 anos com pouca experiência literária, mas que, todavia, parecem patetas quando lidas por um rapaz de 15 anos e ditas por um rapaz de 15 anos. Não achei piada aos amores e desamores de James: gosta de uma, tem um fraquinho por outra e encanta-se pela primeira que se encanta por ele. Surgiram conversas menos maduras com as quais não me identifiquei nada e não acho que me identificaria se ainda tivesse a idade das personagens. Isto dos livros juvenis, reconheço, é algo muito pessoal, no entanto.

 Quanto à escrita do autor, não tenho muito a dizer. É bastante simples e não prolonga muito os acontecimentos, o que é ideal para cativar os leitores da faixa etária a que se destina e que estão agora a começar a ganhar o gosto pela leitura. Quanto a mim, prefiro emoção nos momentos, profundidade nos sentimentos, todavia, de certeza que se este livro possuísse tais características depressa maçaria um jovem leitor. Já referi que li as primeiras páginas de uma só assentada, porém, esta obra não me cativou o suficiente e, ao fim de 200 e poucas páginas, acabei por o deixar pousado por uns dias.

 A personagens têm boas bases, mas não são muito desenvolvidas. Temos os rufias, os trapalhões, as duronas, os rapazes, as raparigas e por aí além. Não as achei nada de especial e nenhuma me agradou em particular. Gostei imenso de James no início do livro, parecia-me uma personagem promissora, mas com o tempo deixou de, a meus olhos, ser tão interessante; tornou-se um rapaz normal de 12 anos, cuja facilidade em superar uma grande perda não consegui entender, bem como o motivo por detrás de certas atitudes mais estúpidas. Espero, no entanto, um grande crescimento da parte dele nos próximos livros - estou curiosa para saber o desenvolvimento que terá este protagonista.

 Neste livro também encontramos conteúdo mais violento, não devido à recruta e às missões, mas sim,  sobretudo, às agressões físicas infligidas por jovens mais fortes a outros mais fracos - falo sobretudo do bullying e da discriminação e daqueles que, quando agredidos, retaliam da pior forma. Tal faz muito parte da vida de James, que já assumiu tanto o papel de agredido como de agressor e que foram a principal razão do surgimento de expectativas para esta personagem. Talvez a ideia de retaliar quando somos vitimas de violência física seja algo que se possa instalar na cabeça de algumas mentes que ainda são facilmente influenciáveis. Mas a violência já é algo muito comum em livros juvenis e Young Adult.

 Só queria salientar um aspeto do final que também me desagradou: num primeiro livro de um série, quando ainda estamos a descobrir uma nova realidade, surgem também ideias do que poderá ou não vir a acontecer e certezas sobre aquilo que irá efetivamente acontecer. Nas últimas [10 ou 2]) páginas deu-se um acontecimento que, para mim, era óbvio que se ia suceder - só não esperava que fosse tão cedo e logo no primeiro volume. Trata-se de um único aspeto, mas uma das minhas maiores críticas ao livro - achei apressado e sem nexo acontecer logo no início da aventura.

 Não me cativou particularmente, mas deixou-me deveras curiosa em relação aos próximos volumes. Espero um maior desenvolvimento de todos os aspetos da obra - apesar de receber somente 4 estrelas de 10, é de destacar que conseguiu gerar expectativas. Espero que sejam cumpridas, pois não há pior sentimento literário do que aquele em nos apercebemos de que não é tão bom quanto estávamos à espera ou gostava-mos que fosse.







 Última semana antes dos exames! Desejei-me sorte!

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